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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Uma lenda Tupinambá

Li este texto e achei interessante a semelhança que existe entre a criação do mundo do ponto de vista do conhecimento teológico e de acordo com a cultura indígena dos Tupinambá.
Vejam:


A Criação do Mundo

Monã criara o céu, a terra os pássaros e outros animais. A terra era uma planície sem montanhas nem mares, pois tudo isso surgiria depois.

Os povos viviam em paz, gozando os benefícios da obra do criador; mas com o tempo, os homens se entregaram-se a tais desatinos que começaram a desprezar o próprio Monã, que residia entre eles.

Ofendido, Monã afatou-se dos homens e enviou à terra o fogo celeste que destruiu todos os seus viventes e revolucionou a crosta terráquea, formando montanhas e vales. No caos, salvou-se apenas Irin-Majé que, transportado para o céu, aplacou as iras de Monã; este compadeceu-se dos homens e derramou na terra copiosas chuvas que extinguiram o fogo, criando os rios e outras águas. O mar ainda hoje conserva a salinidade produzidas pela combustão das rochas.

Irin-Majé convencera a Monã de que nada lhe serviria viver sozinho num mundo desabitado. Diante disso, Monã deu uma companheira a Irin-Majé e do novo casal surgiu a atual humanidade. Então nasceu um grande profeta, homem sobrenatural a quem, por suas maravilhosas obras, foi dado o nome de Maire-Monã. Este, graças às mesmas metamorfoses e os mesmos poderes mágicos de Monã, de quem era servidor, encheu o mundo de animais diferentes para cada região.

No entanto, apesar de tantas dádivas , logo depois os homens recaíram na integração; chegaram mesmo a pensar em aniquilar seu benfeitor, pois Maire-Monã, com o seu poder de transformar gente em bicho, trazia os homens em desassossego. Para liquidá-lo, reuniram-se todos em certo local e ofereceram a Maire-Monã uma festa à qual o grande caraíba não tardou em comparecer, embora suspeitando das intenções de tal convite.

Lá chegando, os homenageantes introduziram-no a transpor, sem queimar-se, três grandes fogueiras. O caraíba venceu a primeira prova. Mas ao saltar a segunda foi consumido pelo fogo. Sua cabeça, porém, explodiu, chegou até o céu, originando os raios e trovões, que são os símbolos de Tupã. Veio o dilúvio universal. E logo Maire-Monã subiu às nuvens e transformou-se em luminosas estrelas.

Para os Tupinambá, esse Maire-Monã era um anacoreta ou solitário, embora vivesse rodeado de discípulos ansiosos por suas palavras e ensinamentos. Tinha poderes iluminados; dominava as forças naturais e conhecia profundamente os exorcismos mágicos-religiosos.

Ele introduziu entre os Tupinambá a cultura da mandioca e diversos costumes como a tonsurra, a epilação e os ritos do nascimentos. Desaconselhou-os de comer os animais pesados e lerdos recomendado, ao contrário, a carne dos animais ágeis e valentes. Ao mesmo tempo, ensinou-os a distinguir entre os vegetais daninhos e úteis. E disseminou o uso do fogo que, até então, era conservado nas espáduas da preguiça.
Contaram os Tupinambá que, sobrevivendo uma longa estiagem, Maire-Monã tomara, por compaixão, a forma de uma criança. Bastava bater nela para caírem chuvas que regavam as plantas esturricadas.

Entre os descendentes de Maire-Monã um houve que se chamou Simmai, o qual teve dois filhos: Tamendonare e Ariconte, que eram inimigos. O primeiro era um pacífico pai de família, sempre entregue a sua lavoura; o outro, porém, só cuidava da guerra e sonhava reduzir à servidão os seus companheiros.

Certo dia, Ariconte, cheio de arrogância, atirou na choça de Tamendonare um troféu de guerra e este, repelindo o agravo, pôs-se a golpear o chão, fazendo joviar uma impetuosa torrente. Quando o dilúvio provocado pelo jorro ameaçava cobrir a face da terra, subiram ambos, com suas esposas, ao cimo das árvores. Tamendonare escolheu a pindoba e Ariconte o jenipapeiro. Desses dois casais sobreviventes do dilúvio, provieram, respectivamente, os Tupinambá e os Temiminó.

CASCUDO, Câmara. Antologia do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ediora Vozes,1963, p. 34.

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